domingo, 2 de março de 2008

Muito típico em seu privilégio: ficou prenha numa posição segura, pra evitar contratempos da ordem da feiúra, mesmo que a muito tempo só seja feio quem o dinheiro não compra. Teve desejos e padeceu da falta de desejo absoluta: ótimo pretexo, filho é filho, mãe é mãe, e essas coisas são assim. Ai vieram médico anestesista, médico cirurgião, médico pediatra, médico homeopata e todas as espécies de especialistas que a previdência privadíssima, privadérrima, pode garantir. Um estardalhaço. Roupinha cor-de-rosa, roupinha azul, carrinho de florezinhas, carrinho de heróis em quadrinho. Frufrus, chupe-chupes. Chegada a hora, a expectativa lancinante era pela deformação póstuma do corpo da mãe – a cesária fora a opção desde o belo dia do sexo pasmacento de procriação.

Veio ao mundo roxo, chorento, mulambento, esperneando, extremamente indignado. E voou. Sem asas nem truques, o montinho de carne – ainda sem domínio sob seus impulsos cerebrais – grudou-se no vértice da maternidade branca e ficou, até que fosse resgatado pelo cordão umbilical, como um balão de gás capturado pela cordinha.

Sem mais, outros foram nascendo. E foram voando.

Aqui, no Império da Mãe Joana, onde nada acontece sem que alguns já conheçam sua projeção, o terror foi amplo e escandaloso. A al Quaeda, rapidamente, assumiu a autoria. Os estados unidos do norte, reinvindicaram a sanção da ONU para uma medida mais drástica. As veladas e caducas monarquias européias nunca apreciaram tanto ter um primeiro-ministro que as representasse em toda e qualquer situação. Os Honoris atribuíram causas econômicas com um fundo – histórico – de saturação política, numa linguagem claramente fugidia. Os físicos mataram-se, todos, exceto aqueles que há muito já não acreditavam na perenidade das leis sob as quais nos fundamos. Os vicking latino-americanos criticaram o líquido negro do capitalismo. E a Igreja, esta sim, apreciava o que via.

Agora, sem dúvida, é tempo novo. Há quem voe, e os que nasceram antes do mistério magnânimo, da quarta intriga, da redenção da ordem do dia. Assim como Platão, Aristóteles e Hesíodo flanam no purgatório pela infelicidade de terem nascido antes do advento de Cristo – que abriu a porta do céu com suas mãozinhas proféticas -, nasceram outros Dantes que foram logo dando a péssimo notícia: a redenção é geralmente bem positivista. Alguns voam, outro não. E isso era tudo. Mas, como nada pode ser apenas catastrófico para que se mantenha viva a fé em quem supostamente proporciona as catástrofes, o vaticano bramiu: dessa vez, o redentor é bem nascido. Chega dessa pieguisse de manjedoura e montinhos de capim.

Conforme normalizou-se a aberração e a linha divisória plenificou sua humilhação, o mundo dividiu-se em desgraçados e absolutos novamente. Não de acordo com a linha do Equador, ou o G7 ( mais a Rússia ). Agora a sorte era temporal, era imaginária. E nossa modernidade não conseguiu lidar com a destruição do óbvio que tanto pediu. Agora os pecados anteriores ficam redimidos, continua a culpa e as imagens escorregadias, mas a tentativa se torna obrigatória.

E assim, desse modo, consigo fazer um carinho leve em quem gosto.

2 comentários:

Delon disse...

mas que bela história! q poderia se engrandecer em linhas, senão fica apertada e assim soa como beleza espremida
: )

Stella Garcia disse...

Gostei muiuto ale... muito mesmo... vc é foda hehe...
gostei desse seu jeito de escrever, bem sobrio assim... sei la... e a historia eu ja sabia e gostei muito dela escrita aí... hehe... acho que não podia ser de outro jeito...talvez com mais parágrafos... ou não...